" Toquem meu coração ... façam a revolução "

sábado, 12 de maio de 2007

Comentário insignificante sobre a mediocridade juvenil.

Eu, Maria Noemi, por vezes, sou mãe daquelas clássicas, que ao invés de levar a filha para conhecer um museu, ver um filme educativo, conhecer um acampamento do MST, proibir a criança de ver novelas, de assistir a Xuxa, arrumo meus cabelos, coloco uma maquiagem, um salto alto, e como toda mãe da classe quase média de Blumenau, levo minha pequena Deusa do Amor para fazer um passeio no Shopping. (Mesmo achando uma coisa detestável!).

Enquanto eu esperava que minha filha se esbaldasse na piscina de bolinhas,a única coisa que eu poderia fazer era ler e observar as pessoas. Claro que eu não iria tomar uma cerveja, mesmo sendo essa a minha grande vontade.

Sentada ali, onde muitas mães e pouquíssimos pais esperavam seus pequenos, lendo um livro de Jack London, pois não consegui estabelecer nenhuma conversa interessante com nenhum daqueles seres maternos que me rodeavam, fui interrompida subitamente por um burburinho de vozes, uma onda de barulhinhos e risadinhas, que me chamou a atenção e me tirou de dentro da noite fria que Jack London descrevia tão dramaticamente.

Eram centenas de adolescentes, das mais diversas idades, 12, 14, 15, 17 anos talvez, sei dizer que estas meninas e estes meninos eram muito jovenzinhos,bonitos, bem vestidos, sorridentes, bem tratados, alguns estavam ainda de uniforme de escolas particulares de Blumenau (claro, estudante de escola publica tem vergonha de usar seu uniforme dentro do Shopping, seria um disparate). Outros usavam roupas de marca, tênis de dar inveja, e todos, todos,impreterivelmente tinham um celular na mão. Faziam uma zueira gostosa, um barulho musical que me Distraiu por alguns poucos minutos. Então comecei a observar cada um deles, por grupos. É estranho como a juventude de hoje de organiza por grupos Homogêneos e sem personalidade, cada grupo se veste da mesma maneira, com as mesmas cores, com as mesmas marcas, arrumam o cabelo igual, até o bendito celular é igual.

Claro, historicamente a juventude ocidental sempre se organizou em grupos, bandos, tribos, gangues, mas a personalidade de cada um era mantida, definida, se Organizavam para dizer alguma coisa, para provar alguma coisa. Mas os grupos que eu observava ali, não eram isso, não tinham as cores da rebeldia inerente a juventude.
Havia um grupo de meninas com aproximadamente 15 anos, umas seis meninas,todas usavam bata branca, e shortinho bege, sapato de salto ou babuche plataforma, cabelo comprido e liso, corpo magro e perfeito,e óbvio, celular na mão. Elas não falavam entre si, ficavam olhando para os lados sem parar, e quando passava um garoto que interessava todas se entreolavam e riam, mas não diziam mais que uma frase. Ao lado, havia um grupo de uns 20 garotos, todos vestidos de preto, cabelos com cortes modernos e calças xadrez, notei que todos tinham tênis iguais, e da mesma cor. Falavam pouco, um deles começou a chorar e todos se abraçaram e ficaram ali, parados, imóveis, por um bom tempo, depois começaram a rir e falar Compulsivamente. Pareciam até maquinas que mudam de função com o apertar de um comando, ou botão.

Perto de um box de venda de sorvete, percebo um casalzinho ao longe, trocando caricias, caricias voluptuosas para aquela hora. Penso que devem ter em torno de 15 anos. Decido então, dar um jeito de conversar com alguns destes jovens, entender estes comportamentos.

Vou com a maior cara de pau conversar com aquelas meninas bonitas que se vestem igual e não falam muito. Aproximo-me do grupo, e automaticamente elas caem fora, nem me dão atenção, e claro ficam sem entender nada. Sentam em uma mesa da praça de alimentação e todas pedem uma coca-cola light. Ficam olhando com medo, receosas. Fiquei constrangida.

Volto para meu banquinho na piscina de bolinhas, e fico desolada, porque elas não quiseram conversar comigo, sendo que eu queria tanto entender e tirar conceitos da vida daquelas garotas. Inconformada eu me levanto e vou em direção ao grupo dos rapazes de camisa preta e calças coloridas.São bem mais receptivos mais educados. Conversamos por alguns minutos, todos riem.São filhos de professoras, metalúrgicos, vendedores, pequenos empresários, funcionários públicos. Estão terminando o ensino médio e vão fazer vestibular para sistemas de informação, porquemais dinheiro. Somente um deles falou que quer estudar filosofia, porque é mais fácil passar no vestibular, não pelo Conhecimento que irá adquirir...
Mas não acrescentaram nada de importante à impressão que eu estava tendo daquelas mentes completamente vazias de tudo.
Volto para meu banquinho de espera e não consigo parar de olhar para o casalzinho namorando. Não me contive e fui puxar conversa. A garota não gostou, mas o rapazinho sorriu e disse que eu poderia pedir a informação que eu queria. Conversamos um pouco e eu questionei porque ele estava usando uma camisa da Janis Joplin. Ele disse que porque estava na moda. Não sabia quem era a moça da foto.Meu coração se estilhaçou neste Momento. Pedi o que eles achavam sobre aborto e eles se olharam e disseram que era a coisa mais feia do mundo. Falamos de religião, são católicos, os pais gostam do Amim e votaram num tal de Colombo... Mas na realidade eles não sabem o que é direita nem esquerda na política.Disseram que isso não importa que eles não tem idade para isso.
Sai desolada da conversa.

Mas o que eu quero dizer com isso? Quero colocar nesta descrição um pouco do vazio que a juventude tem dentro de suas vidas. São jovens que não têm nenhum limite para o sexo, para a bebida, para as drogas e principalmente para o consumo, mesmo não tendo dinheiro para comprar aquelas mercadorias que estavam nas vitrines que nos rodeavam. Claro, pois a função deles ali, era de visitar as mercadorias, admirá-las como algo subjetivo, não de tê-las, pois sabem inconscientemente que para adquiri-las, é um longo e penoso caminho que a classe média caminha, sonhando e idealizando tais produtos.
São completamente liberais para o sexo, mas reacionários, isso mesmo, essa geração é uma imensa massa de seres reacionários e conservadores, que acreditam em Deus, na sorte, no consumo, no capital, condenam o aborto,condenam os movimentos sociais (por vezes, nem sabem o que é movimento social), condenam o amor livre, mas ao mesmo Tempo não sabem entender seu próprio prazer, não se interessam pelo Conhecimento, não lêem, não conhecem a história, acho que um brócolis é mais interessante que um jovem de 15 anos hoje.
Lembro de meu pai falar, há alguns anos que quando a geração dele usava drogas e ouvia rock, deixava o cabelo e a barba crescer era para afrontar a Sociedade, para contestar as regras estabelecidas, hoje a juventude usa cabelo grande, usa drogas, faz sexo sem preocupações e quer que a ordem e os bons costumes da sociedade sejam bem estabelecidos, bem fundamentados.
Não consigo compreender.Caetano Veloso afirmava que não poderíamos confiar em Ninguém com mais de 30 anos no inicio da década 70, hoje eu afirmo categoricamente que não confio em ninguém com menos de 30 anos.

Essa juventude não irá tocar o coração de ninguém para fazer a revolução,essa Juventude precisa de um choque de consciência para transformar este país.E eu vou buscar minha filha na piscina de bolinhas, acabou a conversa com aqueles garotos e o horário da minha pequena. Saio dali olhando para ela com a sensação de que a Responsabilidade está na mão dessa geração de pequeninos,eles sim tocarão novos acordes de transformação e eu preciso desesperadamente de uma taça de vinho tinto para acalmar meu coração de 31 anos.

Mas .... Eu Noemi Maria ... Ainda Espero !

4 comente ...:

Rosa Mística disse...

esse foi o texto mais esperado do BLOG desde sua criação ! Noemi Maria estava aí silenciada só observando, constatando a mediocridade humana e juvenil !

Anônimo disse...

Ah .. eu gosto dos jovens ...

a gente só tem que apreender .. a falar a lingua deles ... olhar esse mundo sem muitas alternativas com os olhos deles ...
sentir aom as mãos deles ... e cuspir do mesmo jeito que eles estão fazendo ....

Anônimo disse...

Concordo com o que foi escrito. É isso que realmente predomina, mas temos de lembrar que não todos os jovens. Blumenau é um lugar que não tem praticamente nenhum movimento social, fica realmente difícil dessa juventude vir a ser subversiva. Só quem realmente tem muita vontade e apetite pela transformação social é que corre atrás. Tenho 20 aninhos e sou militante da libertação humana e animal, anarquista desde a adolescência e nunca tão convicto como agora. Amei o texto mesmo... abraços!

Mona lisa Budel disse...

... E ainda se respira entre os 15 e os 30 anos ...

... Dante Dores ... é pessimista ...

mas ainda confia ....