Dia desses, desses em que eu estava tentando esquecer que sou gente, liguei a tv, sintonizei a velha fonte de luz azul, com antena próvisória e imagem cheias de chuviscos, na única coisa aproveitável naquela hora na programação da tv aberta, o bom e tradicional preferido de todos que não gostam de novelas e reality tolices " Recorte Cultural ", a entrevista era com Marcelino Freire, xeretando na net descubro o Blog do escritor http://www.eraodito.blogspot.com, e o texto violento como um soco no estomâgo, que ele lia durante o programa !
ESQUECE
Violência é o carrão parar em cima do pé da gente e fechar a janela de vidro fumê e a gente nem ter a chance de ver a cara do palhaço de gravata para não perder a hora ele olha o tempo perdido no rolex dourado.
Violência é a gente naquele sol e o cara dentro do ar-condicionado uma duas três horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enfiar o revólver na cara do cara plac.
Violência é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chega assim nervoso a ponto de bala cuspindo gritando que ele passe a carteira e passe o relógio enquanto as bocas buzinam desesperadas.
Violência são essas buzinadas e essa fumaça e o trânsito parado e o outro carro que não entende que se dependesse da gente o roubo não demoraria essa eternidade atrapalhando o movimento da cidade.
Violência é você pensar que tudo deu certo e nada deu certo porque quando você vê tem um policial ali perto e outro policial ali perto querendo salvar o patrimônio do bacana apontando para a nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana.
Violência é acabarem com a nossa esperança de chegar lá no barraco e beijar as crianças e ligar a televisão e ver aquela mesma discussão ladrão que rouba ladrão a aprovação do mínimo ficou para a próxima semana.
Violência é a gente ficar com a mão levantada cabeça baixa em frente à multidão e depois entrar no camburão roxo de humilhação e pancada e chegar na delegacia e o cara puxar a nossa ficha corrida e dizer que vai acabar outra vez com a nossa vida.
Violência é a gente receber tapa na cara e na bunda quando socam a gente naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e aquele relógio rolex mas isso fica para depois uma outra hora.
Esquece.
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E Eu Nercinda Rocha .. não esqueço
4 comente ...:
opa !!
Só para deixar claro ... isso não é apologia ...
é literatura ....
Violência ;;;
e se o Bope pode colocar sacos plásticos na cabeça de moleques, o Marcelino também pode, parar o trânsito e chamar um pm com 38 na mão !
nossa isso aqui tá gritando!
rosa ... dos ventos
Realmente: muito bom! Excelente também o teu poema no outro blog: auto-retrato. Adorei teus escritos. Não pude comentar lá, tive problemas no acesso aos comentários. Já verificou isto?
Abraços, volto mais vezes!
coloco os sapatos e entro em casa também não esqueço...
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