Dias Melhores ...

domingo, 18 de março de 2007

Eu Maria Macabéia Flores, neste dia quente e barulhento me sinto aturdida, não consigo entender o vaivém da avenida.
Procuro vestígios humanos nas páginas de jornal. Há tantas notícias, frases dispersas, fatos irreais. Quero entender o que se passa no mundo, não aquele dos profetas, mas este ao meu redor. Quero saber porque já não durmo mais, porque todos andam freneticamente, porque é proibido olhar, para além dos muros cinzas da cidade jardim.
Lembro, que quando abandonei minha terra, vim para cá atrás de uma vida melhor, tinha esperança de algo mais que feijão e carne seca. Li numa dessas revistas de capa colorida, que esta cidade é jardim, um dos melhores lugares do país para viver. Na página da revista, um gráfico colorido apontava altos índices de desenvolvimento humano. Achei que aqui os humanos eram diferentes, desenvolvidos. Então imaginei que haveria mais comida que na minha terra, mais emprego, mais possibilidades. E realmente há. Só que a comida desce pesada e amarga, ela existe nas prateleiras dos supermercados. O trabalho também há por todos os lados de todos os tipos e toma quase todas as horas do dia dessa gente.
Acho irônico que se em minha terra a gente morre de escassez, aqui se morre de excesso.
Um excesso fragmentado, vigiado, assumido. E eu já não sei se há lugar em que se possa ser, por inteiro, completo e não só, fragmentos.
Não tenho mais dúvidas, realmente nasci ao avesso. E esse mundo é inviável. Eu devia ser flor, pelas agruras do destino tornei-me navalha afiada. No prédio de Nercinda, procuro com os olhos e luneta da amiga, alguma fresta, desvio, dobra, qualquer sobra que permita ser por inteiro, nessa cidade a qual só me permitem ser fragmento....

Maria Macabéia Flores... ainda vive ...

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