Esperando Godot

terça-feira, 31 de julho de 2007

Esperando Godot (conhecida peça de Samuel Becket) teve estréia em 1953, em Paris. No Brasil, Cacilda Becker e Walmor Chagas protagonizaram a primeira montagem profissional, no final da década de 1960. A peça desdobra-se emdois atos. O cenário é uma encruzilhada campesina, um lugar indefinido.Vladimir e Estragon lá se encontram para esperar um tal de Godot. Os dois amigos são figuras tristes e deslocadas. Enfrentam a falta de sentido da existência com diálogos triviais e atividades inócuas. Godot parece ser a única esperança de sua existência. Não se sabe quem é ele ou por que a dupla o espera. Ao final do primeiro ato, um garoto entra em cena para avisar que Godot não viria naquele dia, talvez no dia seguinte. O segundo ato reproduz o primeiro, com pequenas variações. Ao final, outro garoto entra em cena para avisar que Godot não viria naquele dia, talvez no dia seguinte. Vladimir e Estragon pensam em se enforcar, mas desistem da idéia. No derradeiro diálogo, Vladimir pergunta ao amigo: "Então, devemos partir?", ao que Estragon responde, "sim, vamos". Mas eles não se mexem.

(texto extraído da Revista Carta Capital, edição de maio de 2007, autor:Thomaz Wood Jr.)

E... Noemi questiona ...

Depois de tanto tempo adormecida e embriagada... hibernando como um urso, acordei neste frio inquietante, tão longe de Blumenau, com milhares de questionamentos brutais, que me corroem e eu preciso falar... mesmo sabendo que irei penar pelo preço das palavras que escrevo: O que realmente espero, o que realmente vocês moradores deste mundo virtual esperam? Diante do Capital globalizado, do conhecimento fragmentado, do culto a intelectualidade bestial e sucateada... completamente antiga e ao mesmo tempo, com traços da nojenta e pegajosa pós modernidade... diante da contradição destas milhares de vidas ingênuas que vagam deliberadamente pelas ruas, festas, esquinas, mercados, bares, sites, casas, não consigo perceber nada além de falsos valores, falsos princípios que tangem estas vidas, que nada fazem... vivem e morrem da mesma maneira... esperando. Homens e mulheres expostos em vitrines elegantes... em um grande frenesi de trabalho, silêncio, compromissos, sexo, falta de sexo, falta de amor, falta de comida (por opção ou por necessidade)...paixões, compras, idéias, serestas, corpos bem vestidos, para enganar a si mesmo... a cidade anda... e esperamos que a cidade nos dê respostas... Começo a ter um grande incomodo diante de tantas pessoas que se justificam, justificam tudo... explicando quando irão comprar o carro novo, trocar o celular, reformar a casa. Justificam porque estão sentindo prazer.. metem quando não sentem. Criaturas que vivem irremediavelmente esta vida de desfrute do que o trabalho pode dar... mas nem sequer leram uma obra de Neruda na vida, nem sequer sujaram as mãos e os pés na terra, não tomaram banho de chuva e não sentem o vinho tinto descer delicadamente por suas gargantas. E não estou falando da classe média não, estou falando de nós... pobres, trabalhadores que acreditamos, um dia, ascender para a tão sonhada classe média... com toda a sorte de supérfluos e coisas e tais, que o pouco dinheiro poderá comprar... e comprar até a espera de uma vida que nunca virá. Aceitando a exploração, a subjugação e a grande imoralidade do trabalho pago em horas parcas. Parece confuso, e é... nunca foi minha função ser clara, explicar... e sim confundir e ironizar... provocar raiva e ódio, esta raiva dilacerante que consome, esta raiva que tenho da grande máquina colorida, das frases feitas, dos sonhos possíveis, das possibilidades embaladas em papéis de presente! O mundo em labaredas, fora das ruas sem respostas da cidade provinciana. O gigantesco mundo do capital fabril, do capital financeiro, do capital intelectual, dilacerando países inteiros, consumindo mentes e sonhos. As necessidades banais roubando as vidas que passam nos programas baratos de televisão. Nas grandes cidades da América Pobre e Latina, a agonia globalizada e penosa da luta para viver, da luta para poder morrer, assistimos as danças de balas das armas do aparato militar, do narcotráfico, do mercado virtual... como se nossa velha cidade quieta e silenciosa fosse apenas espectadora, invisível e indiferente ao mundo vivo e latente, ensangüentado e rasgado. Relegada a sorte das grandes coisinhas que entorpecessem, que anulam a vontade de transgredir, de atravessar a rua e fugir. E desse amargor que trago em minha boca, fiz minhas escolhas, como vocês seres moradores deste mundo virtual... vivo a margem... moro a margem... e não preciso me justificar... apesar de saber que preciso esperar... seja um amor, uma carta, alguém... uma revolução... um pensador... um beija-flor. Ou quem sabe, esperar que a morte, vestida de vermelho venha... mas sei que vivo para as "não coisas" que existem do lado de fora, contra todos aqueles que optaram por uma vida de esperas e vendas... de truques baratos e chantagens caras. Quantos de nós somos Vladimir ou Stragon? Quantos de nós estamos na estrada esperando uma resposta de Godot?

Conservar a personalidade em tempos de barbárie é dádiva e não defeito!Ventos de novas vidas começam a brotar, aquecidos trazendo tempestades!
E a nossa cidade não passará impune, talvez
viveremos !"!!""
Noemi Maria ... ainda espera ...

21º Festival Universitário de Blumenau

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O espetáculo EM CADA SOLIDÃO da Companhia Cais de Teatro da USP, que realizou quatro apresentações no Festival Universitário de Blumenau nos dia 10/11, causou reações adversas no público que o assistiu. Alguns gostaram, outros não, alguns sentiram a solidão motora das angústias vivenciadas pelas personagens, característica desses tempos o qual a companhia define de HIPERMODERNO. “ A Hipermodernidade é um tempo paradoxal onde a contradição está inserida dentro do cerne da sociedade e dentro dos indivíduos. (DOSSIÊ EM CADA SOLIDÃO). Desta forma para retratar essa hipermodernidade, nas artes cênicas, é necessário que se tenha uma HIPERCENA “ (...) a Hipercena, como a modernidade não está concluída e nem poderia, pelo contrário, ela começa a esboçar suas intenções e orientação como o próprio Lipovetsky aponta mas, podemos deixar a pós-modernidade, podemos por fim a um movimento sem movimento apologético do fim para adentrar em um retorno, uma volta e uma busca por linguagem.” (DOSSIÊ EM CADA SOLIDÃO). Através dessa abordagem a companhia tentou trazer no espetáculo Em Cada Solidão, uma história que fosse contada de forma não linear, mais que trouxesse r a tona as sensações e angústias de quem sente a solidão dessa Hipermodernidade. No qual cada espectador tem uma interpretação a partir de sua trajetória de vida, das sensações vividas, dos sabores experimentados, das angústias sentidas.Nossa análise do espetáculo? Não conseguíramos condensar em simples palavras, mais ainda sentimos em nosso corpo, as sensações desencadeadas em cada solidão vivenciada pelos personagens, que não diferem da solidão que sentimos.